LIVROS VELHOS

Sabe aqueles livros que ninguém ler?

Um dia eu abri um e folheei

Não gostei do que encontrei

Sabe aqueles livros da parte de baixo da estante?

Pois é, são os únicos que hoje leio.

No de capa vermelha eu vi algo que não acreditava.

O da capa azul eu só pegava quando estava triste.

Mas os que eu mais lia eram os verdes e os de muitas cores.

Pouco me importava o pó.

Pouco me importava está só.

Mas aí eu percebia que o dia ia passando

E a minha vida foi se transformando.

Sabe aqueles livros que ninguém ler?

Pois é, hoje eu os leio.

Hoje eu os limpo.

Eu os cuido.

Eu os mimo.

Não empresto meus livros velhos.

Tem gente que não toma cuidado.

Tem deles que é até desorganizado.

Sempre tem um mal humorado,

Que teima em deixá-los de lado.

Não.

Por essa razão não empresto.

Ontem espirrei quando toquei no Mar Morto

Sal sempre me faz espirrar.

Ontem conheci um padre criminoso.

Pobre Amélia,

Eu bem sabia, ele faria como fez com Os Maias.

Faz tempo que não vivo neste mundo.

Vivo no mundo do pó.

Das casas de aranhas.

Das traças.

Do maravilhoso e alucinante cheiro de mofo.

Sabe aqueles livros que ninguém ler?

Sabe porque ninguém os ler?

Porque fedem a mofo.

E eu adoro cheiro de mofo.



Cosme Alves