Atividades do Mês - DEZEMBRO

18 - ENTREGA DOS LIVROS E ULTIMA RODA DE CONVERSA DE 2010

Quem Somos

Projeto agentes de Leitura de Itapiúna é uma extensão do Projeto Agentes de Leitura do Ceará, uma ação da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (SECULT-CE), articulado ao Plano Estadual do Livro e da Leitura, focando o direito á leitura, como instrumento de inclusão social e cidadania.

Acesse o Blog do Cosme Potter

contos

A viagem que Pedro fez ao Umbigo

Quem diria que a aula de Português, da qual Pedro tanto gostava, seria aquela lenga-lenga da diretora sobre o novo uniforme? A turma toda bocejava enquanto a D. Elvira explicava-lhes o porquê de usarem azul marinho na camiseta, e azul turquesa na calça. O tênis dos garotos devia ser branco e a sapatilha das meninas devia ser cor-de-rosa. Mas quem disse que estavam ligando pra isso? Estavam mesmo com vontade de vê-la sair logo dali, estavam com vontade de continuar a ótima aula de português que estavam tendo, até sua chegada.
Pedro sabia onde tudo ia acabar. Primeiro ela começava a falar a que viera depois falaria da bagunça que estava se tornando a hora do recreio e por fim, não só a sua, mas todas as outras turmas do Santa Isabel estariam lá no pátio, sob o sol ardente das dez e vinte da manhã, com gotas de suor escorrendo pelos rostos e a mão suando por sobre o peito. O juramento a bandeira acontecia sempre que ela desejava. A única que a pediria para ter pena dos alunos era a cúmplice dos pequenos. A velha merendeira D. Laura, que sempre os xingava nas horas da entrega da merenda, também qualquer um xingava, o empurra-empurra era grande e o Robinho até já sangrara o nariz nessa história. Tirando a merendeira, ninguém mais, nem os professores, todos estavam do lado dela. Até mesmo a fada que falava com as mãos. Isso era inaceitável.
- E eu sei que vocês adoram o intervalo e a merenda, mas não precisam correr como desesperados, há comida o suficiente para todos. Quantas vezes terei que repetir, não só para vocês mas para seus pais também, que aqui é uma escola, aqui deve reinar a ordem, a disciplina...
Pedro não a ouvira por completo, quando ela chegara na “...plina... e ... é... por...is...so ”, sua cabeça já caíra sobre o braço da carteira. Começou a caminhar, nem ele mesmo sabia como podia fazer aquilo. Os olhos arregalados. Não era de medo, era um “arregalamento” de incredulidade, de surpresa, de susto. Ele começou a caminhar por uma colina, embora duvido muito que naquele momento ele pensasse que fosse colina. E caminhou, como se tivesse destino certo. Subiu a pequena montanha e quando chegou ao topo, lá de cima ele pôde ter a certeza de onde se encontrava. Não havia sinal de diretora, nem de colegas, muito menos do anjo que falava com as mãos. Olhou para o chão e então algo o chamou a atenção:
“Nossa mãe, eu não acredito!”
E não acreditou mesmo. Fora necessário ele agachar e sentar na borda do grande buraco. Uma cacimba bem redonda. Um orifício que caberia dezenas e dezenas de Pedros lá dentro. Um buraco tão esquisito e ao mesmo tempo tão familiar, que Pedro deslizou sem medo nenhum para dentro dele. Do lado de dentro, percebeu que não era tão fundo como parecia ser, visto do lado de fora. Vendo assim de dentro, ele sentiu uma espécie de aconchego, embora o ar que penetrava em suas narinas não fosse tão agradável. Tinha cheiro de chiclete duro, e um leve sabor amarelo de cera de ouvido. Ele caminhou pelo buraco que parecia se alargar a medida que dava novos passos. E a medida que dava esses novos passos seus olhos se arregalavam novamente, desta vez não para ao redor, e sim para o chão. Ele não se movia como nas areias movediças, não tinha diamantes como as minas, nem tampouco tinha enormes pés de feijões crescendo de seu subsolo. Nada disso. Seus olhos se arregalavam ao ver que nascia do solo as lembranças das coisas que havia perdido em seus cinco ou seis anos de idade. Não necessariamente do solo, a metáfora aqui é só para exaltar o valor daquele solo, pois as lembranças nasciam das coisas que realmente estavam ali. De verdade. E ele sabia disso. Sabia que podia tocar a sua antiga chupeta azul, ainda com a fralda amarrada. Sabia, porque o fez que se apertasse o boneco mordido do Mickey ele ainda faria o saudoso “Fiu-Fiu”. Os olhos do garoto de doze anos ficaram úmidos ao ver a antiga foto do pai, amassada, rabiscada, e roída por algum bicho bem no olho de seu Joaquim. O padeiro se fora depois de experimentar um pedaço de pão e Pedro desde então chorara por sua falta. Como também não comeu mais pão desde então. As lágrimas deram lugar a um sorriso. Um sorriso torto, mas conformado. Olhando mais a frente Pedro viu, bem esticado no chão, um pouco amarelado e já com uma consistência dura, o seu chiclete que até ontem mastigava feliz da vida, e quando acabara o doce e ficou apenas a borracha, pôs dentro da lata do açúcar. Ou sua mãe ou Andréia o teria jogado no lixo. Com a foto do pai ainda na mão direita, levou o chiclete usado a boca com a esquerda. A caminhada continuou e parecia que a cacimba só crescia, não dava água líquida, mas dava uma água que molhava as lembranças tão importantes na vida de Pedro.
Encontrou o carrinho que seu pai lhe dera no natal em que ralou o joelho andando de bicicleta. Encontrou também a buzina dessa bicicleta que havia sumido misteriosamente. Em suas mãos já somava-se uma pequena sacola azul com o desenho de um pônei, e ainda na direita, repousava na palma suada a foto desgastada e muito valiosa. Enfim, algo o fez acordar.
A trilha o fez parar. Estava no fim do buraco. Andara em linha reta, não em círculo, nem para baixo e bem em sua frente estava o fim, bem ali no seu nariz, se encontrava a parte que ajudava a deixar a cacimba redonda. Toda suja de cera. Entendeu então de onde vinha tal cheiro. Mas não teve tempo de compreender o que estava fazendo dentro do próprio umbigo. Nem como aquilo era possível. Beliscou-se: “Ai!”. Não. Não era um sonho. Mas mesmo que não fosse, tinha de arranjar um jeito de ir para a escola, o juramento a bandeira já devia ter começado e a diretora com certeza notificaria sua ausência a sua mãe. E se isso acontecesse, como Pedro explicaria a sua mãe que estivera explorando o próprio umbigo?
Estava decidido a ir pra escola. Mesmo que não soubesse por onde começar.
- Então vamos!
A voz soou em sua cabeça e pensou que estivesse ouvindo fantasmas.
- Mais rápido aí atrás.
Aquela voz era inconfundível. Mesmo assim ficou com muitas dúvidas. “Como ela sabia onde eu estava?”. “Como ela podia estar dentro de meu umbigo?”. Os passos caminharam em sua cabeça, e Pedro teve medo de virar para vê-la. O tac tac tac do salto o fizeram se apavorar. Então ela apareceu.
A diretora o tomou pela mão e ainda assustado e coçando os olhos ele a seguiu.



Cosme Alves

Poesia

LIVROS VELHOS

Sabe aqueles livros que ninguém ler?

Um dia eu abri um e folheei

Não gostei do que encontrei

Sabe aqueles livros da parte de baixo da estante?

Pois é, são os únicos que hoje leio.

No de capa vermelha eu vi algo que não acreditava.

O da capa azul eu só pegava quando estava triste.

Mas os que eu mais lia eram os verdes e os de muitas cores.

Pouco me importava o pó.

Pouco me importava está só.

Mas aí eu percebia que o dia ia passando

E a minha vida foi se transformando.

Sabe aqueles livros que ninguém ler?

Pois é, hoje eu os leio.

Hoje eu os limpo.

Eu os cuido.

Eu os mimo.

Não empresto meus livros velhos.

Tem gente que não toma cuidado.

Tem deles que é até desorganizado.

Sempre tem um mal humorado,

Que teima em deixá-los de lado.

Não.

Por essa razão não empresto.

Ontem espirrei quando toquei no Mar Morto

Sal sempre me faz espirrar.

Ontem conheci um padre criminoso.

Pobre Amélia,

Eu bem sabia, ele faria como fez com Os Maias.

Faz tempo que não vivo neste mundo.

Vivo no mundo do pó.

Das casas de aranhas.

Das traças.

Do maravilhoso e alucinante cheiro de mofo.

Sabe aqueles livros que ninguém ler?

Sabe porque ninguém os ler?

Porque fedem a mofo.

E eu adoro cheiro de mofo.



Cosme Alves

Arthur



pROMOÇÕES

Nildo Pregador entre em contato para receber o seu livro. Mande um e-mail ou fale com um dos nossos agentes de leitura.












e-mail:
agentesdeleituradeitapiuna@yahoo.com.br
ou
fracosmeal@yahoo.com.br

HISTÓRIAS QUE ENCANTAM























O AGENTE Cosme e o boneco Arthur, os contadores de histórias....






















O CONTADOR DE HISTÓRIAS E SEUS OUVINTES....




A BRINQUEDISTA SHEILA E O AGENTE DE LEITURA COSME...


UMA CONVERSA SOBRE a lenda da carimbamba... POBRE ROSABELA!

NA SEGUNDA HISTÓRIA, O COSME FEZ ATÉ PAPEL DE MAL-FEITOR DO FAROESTE....


O COSME IMPROVISOU ATÉ UM VESTIDO DA PRINCESA BEM-ME-QUER...

A ATENÇÃO DE TODOS.....

HISTÓRIAS E MAIS HISTÓRIAS.....

FOTO DE QUEM ADORA HISTÓRIAS....

FOTO DOS OUVINTES.....

CHEGOU O AGENTE......

ANTES DO ESPETÁCULO....


A RODA DE HISTÓRIAS FOI FANTÁSTICA, TEVE HISTÓRIAS DE BRUXAS, DE PRINCESAS, DE BOTIJAS E MUITO MAIS, TEVE ATÉ UMA NOVA VERSÃO DA FORMIGUINHA E A NEVE............... DÁ-LHE COSME!

MAIS UMA BELA PARCERIA ENTRE OS AGENTES DE LEITURA DE ITAPIÚNA E O CENTRO DE APOIO Á CRIANÇA.... VALEU!

EM BREVE VOCÊ CONHECERÁ O PORTAL DO GRUPO...


CONTAÇÕES DE HISTÓRIAS NO CEACRI




COSME E IVANILDA na contação de histórias no Centro de Apoio á Criança


ELES tiveram um apoio (e tanto) da brinquedista Sheila. Valeu Sheila!


TEVE até quem ganhou presentes....


E menina também ganhou....


A IVANILDA é uma ótima contadora e auxiliar de contadores de histórias... a turma se envolveu com ela....



A JARARACA, A PERERECA E A TIRIRICA foram encenados pelos bonecos do Cosme e ainda contaram com uma grande ajuda das mãos da Ivanilda


OLHA a atenção do público, os melhores expectadores que poderíamos querer: AS CRIANÇAS


sentem-se, POIS O SHOW JÁ COMEÇOU...

antes de começar, O COSME AJEITOU O BONÉ e a Ivanilda se preparou para ajeitar a voz....


A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA FOI MUITO BOA, TEVE MÚSICA, HISTORINHA, FANTOCHE E ATÉ PRESENTES, SEM FALAR NO LANCHE...


Aqui deixamos os nossos agradecimentos a toda a turma do Centro de Apoio á Criança que tem contribuído muito com o nosso trabalho.... MUITO OBRIGADO!






IV CAFÉ COM LETRAS


COMO SEMPRE NÃO PODIAM FALTAR OS PRESENTES


ESSA DAÍ VAI VOLTAR PRA CASA COM UM LINDO LIVRO DE POESIAS...


OS TRABALHOS DE GRUPO SERVIRAM PARA DISCUTIRMOS NOSSAS OPINIÕES...


TIVEMOS A PARTICIPAÇÃO DA CARULINA FEITOSA....


A ELENICE MACIEL TAMBÉM ESTEVE NESSE ENCONTRO...


OS GRUPOS ESTAVAM EMPENHADOS NAS ATIVIDADES...


E A POSE PARA AS FOTOS NÃO FALTOU...




ESE ENCONTRO MARCOU O INÍCIO DE UMA SURPRESA QUE VOCÊ PODE ENCONTRAR NESSA FOTO ACIMA...

AGUARDEM!


O FANTÁSTICO MUNO DA LITERATURA


AS FLORES DO PEQUENO PRÍNCIPE no dia final do mini-curso


NO TERCEIRO DIA contação de histórias com o diego felipe


A TURMA TODA


A TURMA TODA


O MINI-CURSO FOI MUITO PROVEITOSO


O PÚBLICO DO ÚLTIMO DIA


NO ÚLTIMO DIA; leitura de cordel


NO ÚLTIMO DIA : exposição de poesias


NO ÚLTIMO DIA: exposiçaõ de quadrinhos


OS PREPARATIVOS, AS ATIVIDADES....


HORA DE ESTUDAR!


O MINI-CURSO DUROU 5 DIAS, TOTALIZANDO MAIS DE 40 HORAS AULAS....

NO ÚLTIMO DIA OS ALUNOS FICARAM O DIA TODO POIS TIVERAM UMA APRESENTAÇÃO PARA O PÚBLICO ADOLESCENTE.

DE ACORDO COM OS ALUNOS O MINI-CURSO FOI MUITO IMPORTANTE NÃO SÓ PARA ELES MAS PARA A COMUNIDADE EM QUE VIVEM...

VALEU AGENTES DE LEITURA!


A liberdade infinita da literatura juvenil

Existem livros mágicos. Quem lê um deles vai para sempre acreditar no poder mágico dos livros, do livro. "Harry Potter e a Pedra Filosofal" é um dos mais impressionantes. A escala e a velocidade de seu sucesso sugerem alquimias secretas. O jovem bruxo não se materializou por encanto. Mas gerou um furacão inesperado. Fez do segmento "livro juvenil" o mais quente da indústria editorial. Com consequências no cinema, no merchandising, nos videogames e na TV.



Mas que é um livro juvenil? Até recentemente, a indústria do livro dividia a literatura em dois grupos principais, "adulta" e "infantil" (ou "infanto-juvenil", outro nome, mesmo significado vago). Neste último segmento, agrupava álbuns coloridos para nenês e tijolos de 700 páginas.

Para fazer uma idéia: em dezembro de 2001, a revista "Publisher's Weekly", bíblia do mercado editorial, publicou a lista dos 276 livros infantis que venderam mais de 1 milhão de cópias nos EUA. O mais vendido é "Charlotte's Web", de E.B. White, criadora do ratinho Stuart Little. Em seguida, vem "Outsiders", escrito aos 18 anos por S.E. Hinton e filmado por Francis Ford Coppola. Nada a ver um com o outro.

Cabe de tudo na lista. Das Tartarugas Ninja a gente como Dr. Seuss ("O Grinch"), R.L. Stine (da coleção de terror juvenil "Goosebumps") e Roald Dahl ("A Incrível Fábrica de Chocolate").

No Brasil também se mistura banana com laranja. Nossas listas atuais de best-sellers infanto-juvenis revelam "1984" e "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, ao lado de Cinderela e Cebolinha.

O escritor de ficção-científica Thomas M. Disch diz que os bons autores de livros para adolescentes devem manter a clareza e a inocência de garotos sabidos como Peter Pan. Chama neotenia. É como os biólogos batizaram a retenção de características imaturas ou larvais no estágio adulto. Para Disch, "os jovens não são seres inferiores, nem miniadultos. São apenas diferentes dos adultos". Têm outras necessidades, outros interesses, outro humor, menos respeito pelo passado, muita curiosidade sobre o futuro, pouca paciência com regras que não criaram, imaginação fértil e muita pressa.

O homem é uma espécie que conta histórias, conta o biólogo Steven Pinker. Para ele, a criança que se encanta com um conto de fadas está fazendo uso de uma herança genética da humanidade. Pinker defende que essa capacidade é uma vantagem evolutiva. Em todos os cantos do planeta, as linguagens são divididas em objetos e ações: substantivos e verbos. Elas nos permitem transmitir informações sobre o que vai acontecer depois, organizando fatos numa sequência temporal.

Não há maneira melhor de transmitir informação densa do que por meio de uma história. Por isso elas têm poder. E os livros incorporam esse poder. Cada livro lido nos muda. Passa a fazer parte da nossa história pessoal. A sequência das obras lidas por cada um é única, pessoal e intransferível.

A adolescência é nosso período de liberdade máxima como leitores. Já temos repertório e ambição suficientes para encarar qualquer "lista telefônica". E não temos, ainda, as obrigações sociais que fazem de boa parte da leitura madura um tedioso desfile de manuais (como dar um jeito na economia, na carreira, escolher o vinho, diminuir a barriga etc.), castigo que já começa com as leituras obrigatórias para o vestibular (a maldição de "Iracema").

O psicólogo Jean Piaget defendia que, nessa fase, "o ser humano está tentando dominar os elementos que lhe faltam para a razão adulta. Precisa aprender a lidar com idéias abstratas e, por isso, precisa ler livros que lidem com abstrações". Deve, portanto, ler histórias fantásticas e selvagens. Quando você não sabe exatamente do que é capaz, precisa de horizontes distantes e idéias desafiadoras. Exige viver aventuras perigosas que testem seus limites.


É por essa razão que todo leitor, nessa fase, adora se apossar de livros escritos para adultos. Pode ser uma velharia desbeiçada e empoeirada da estante, herança do irmão mais velho ou do avô.

Hoje, no Brasil, é inevitável que os jovens acabem lendo Paulo Coelho, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Fonseca. Ou algum desses livros históricos-fantásticos, estrelados por Cleópatra, Alexandre, Júlio César, Jesus Cristo, faraós, Rei Arthur, Bórgias, Medicis. Os "technothrillers" de Tom Clancy, os dramas legais de John Grisham, o horror suburbano de Stephen King, os melodramas góticos de Anne Rice.

Qualquer leitor esperto de 13 anos digere numa boa um best-seller típico, que muitas vezes é um livro juvenil para adultos, disfarçado. E quem já passou dos 30 e não leu Sidney Sheldon, Danielle Steel, Irving Wallace ou Morris West no ginásio que atire a primeira pedra.

A adolescência também é o momento em que alguns de nós se apaixonam perdidamente por gêneros —principalmente, o policial ou a ficção científica. Com duas vantagens. Uma, você sempre tem uma noção do que te espera. Outra, você tem a história inteira do gênero à sua disposição. Quem se apaixona por Agatha Christie vai descobrir Georges Simenon e Raymond Chandler. Quem fica louco por Isaac Asimov acaba encontrando H.G. Wells e William Gibson. Tipo da paixão que bate e fica.

Nenhum desses autores buscava o leitor juvenil. Nem os grandes autores de aventura, como Robert Louis Stevenson e Jack London. Zorro, Drácula, Sherlock Holmes, Conan e o Capitão Nemo foram criados para a diversão de pais, não de filhos. Deram origem e foram parcialmente substituídos pelas histórias em quadrinhos e, mais recentemente, pelos jogos eletrônicos. Essas obras continuam clássicas e são lidas até hoje.


Os romances escritos especificamente para adolescentes são diferentes e muito fáceis de reconhecer. São estrelados por garotos e meninas da mesma faixa etária do leitor, dos 10 aos 15 anos, saindo de seu cotidiano e adentrando um universo desconhecido. Enfrentam bruxas, desvendam conspirações, escondem-se em foguetes, lideram piratas. Muitas vezes, também sofrem e sangram.

Alguns apresentam universos paralelos para onde o leitor adoraria se mudar, ou de onde ele fugiria voando. Os melhores apresentam as virtudes e desvantagens de cada lado do espelho, com os protagonistas simultaneamente abraçando e rejeitando os dois campos opostos. Exatamente como o adolescente, que mantém um pé na infância enquanto dá um passo maior que as pernas em direção à maturidade. O maior clássico juvenil desse tipo é "O Apanhador no Campo de Centeio", de J.D. Salinger —melhor se lido até os 15 anos e relido periodicamente depois disso.

A inglesa Joanne Kathleen Rowling, criadora de Harry Potter, escreve livros assumidamente juvenis e é o novo paradigma do segmento. Soube combinar muito bem duas vertentes tradicionais da literatura de seu país: os livros que se passam em internatos e a paixão pelo ocultismo.

Aventuras divertidas em colégios internos rígidos são populares na Inglaterra há muito tempo. É uma realidade muito distante da nossa e nunca pegou por aqui. A principal exceção é a série de Jennings (no Brasil, Johnny, publicado pela Ediouro). São 25 livros escritos entre 1950 e 1994 por Anthony Buckeridge, que estabeleceram as convenções do gênero.

O crítico inglês Francis Spufford tem uma boa explicação para o sucesso desses livros. As escolas internas são "cidades de crianças". Não há pais por perto. São um espaço de liberdade, onde as regras —justamente por serem externas e impostas— podem ser quebradas ou enfrentadas, sem culpa.

O que importa são as regras de convivência estabelecidas pelas próprias crianças —como aprendemos a conviver com nossos semelhantes e diferentes. Inclusive o garoto riquinho e metido da turma inimiga, o velho mestre misterioso, a professora insuportável e a garota tapada. É por isso que Harry e seus leitores adoram o colégio Hogwarts.

Esses livros de internato fazem parte do que Spufford chama de "estágio da cidade", quando o jovem leitor passa a se interessar por livros que exploram a convivência realista entre as pessoas. Seja numa fazenda, numa ilha secreta, num vilarejo do velho oeste ou num internato. Na Inglaterra, essas obras exploram também a relação entre as classes sociais.

O ambiente escolar é a única grande diferença entre Harry e o personagem Tim Hunter, criado por Neil Gaiman, em 1990, na minissérie em quadrinhos "Os Livros da Magia".

Tim é um garoto órfão, míope, tímido e moreno, de 13 anos. Um dia é levado para conhecer o universo da magia. Se cumprir seu treinamento, poderá se tornar o maior mago do universo. Ganha um mascote/totem para sua jornada: uma coruja, símbolo da sabedoria secreta. Bem parecido com Harry, que só estreou sete anos depois.

Gaiman garante que Rowling não plagiou sua criação, mas se inspirou na mesma fonte que ele: a tradição mágica britânica. Há desconfianças de que que houve acordo entre os autores.

Realmente as artes na Inglaterra têm ligação tradicional com o oculto. E não só em tempos antigos. A ilha deu ao mundo o mais famoso mago do Século 20, Aleister Crowley. A partir dos anos 60, presenciou a renovação do misticismo e o aparecimento de uma nova geração de criadores fortemente envolvidos com magia. Entre os mais conhecidos estão os escritores de livros e quadrinhos Alan Moore ("A Voz de Fogo" e "Do Inferno") e Grant Morrison, cuja cultuada série "Os Invisíveis" é a matriz de "Matrix", o filme.


No Reino Unido, até as obras de respeitáveis acadêmicos cristãos, como o inglês J.R.R. Tolkien e o irlandês C.S. Lewis, têm componentes místicos muito fortes. Ambos andam mais populares do que nunca e têm sido muito lidos por adolescentes à espera do quinto episódio de "Harry Potter".

Amigos e contemporâneos, os dois faziam parte do grupo de intelectuais conhecido como "os cristãos de Oxford", criado nessa universidade na década de 30. Colocaram todo seu fervor religioso nas obras que lhes deram fama, "O Senhor dos Anéis" e "As Crônicas de Narnia".

Tolkien, estudioso da literatura saxônica, pretendia, com a "saga do anel", criar uma mitologia artificial, mas crível, e tipicamente inglesa, à altura do que imaginava que o país merecesse. Foi mais bem sucedido do que poderia imaginar. Sua influência se espalhou pela cultura mundial e está nos lugares mais inesperados —até no filme "Xuxa e os Duendes".

Tolkien assumia que a Terra Média era um mundo pré-cristão, cuja história se passava antes do pecado original. Não se incomodava com os paralelos entre o pão dos Elfos e a eucaristia, ou entre Galadriel e a Virgem Maria. Só admitiu que "Gandalf é um anjo".

Lewis foi além. As sete "Crônicas de Narnia" são o mais explícito proselitismo cristão, com meninos e meninas explorando um universo paralelo muito imaginativo, onde reina o leão Aslan, o Cristo dessa outra realidade. O primeiro livro, "O Leão, a Bruxa e o Guarda-Roupa", voltou às listas de mais vendidos pelo mundo afora e é muito recomendado por igrejas cristãs da Inglaterra e dos Estados Unidos. É um dos autores prediletos de J.K. Rowling.

Outra grande influência na criação de Harry Potter é Diana Wynne Jones, a grande dama da fantasia inglesa. Escrevendo para jovens desde 1973, já tem vários clássicos no currículo, inclusive os quatro volumes das "Crônicas de Chrestomanci", iniciadas em 1977 e agora popularizadas fora da Inglaterra. Seu personagem principal, o garoto Christopher Chant, é um mago que guarda os portais entre os mundos.

Também anterior à "explosão Potter" é Terry Pratchett , o autor mais vendido do Reino Unido nos anos 90, em qualquer gênero. Somente agora está ficando popular em outras línguas. A série "Discworld", iniciada por "A Cor da Magia", une fantasia alucinada com o mais idiossincrático humor inglês.

Os principais companheiros contemporâneos de Harry Potter nas listas de best-sellers são a família Baudelaire, o ladrãozinho Artemis Fowl e a poderosa Lyra da Língua Mágica —todos em breve num cinema perto de você.

Os nove livros de "Desventuras em Série", escritas por Daniel Handler sob o pseudônimo de Lemony Snicket, merecem ser lidos por todos os fãs da "Família Addams". Contam a desgraçada vida dos três órfãos Baudelaire, às voltas com criminosos encardidos e roupas pinicantes.

"Artemis Fowl" é outro astro. O maquiavélico menino prodígio do crime usa supercomputadores para engambelar fadas e enfrentar exércitos mitológicos. O irlandês Eoin Colfer dispara frases secas de tira americano como "a voz que emanava do alto-falante era tão séria quanto um inverno nuclear".

Philip Pulmann ocupa um lugar especial. Ganhou prêmios literários importantes e tem admiradores e detratores igualmente apaixonados. A razão é que sua trilogia "Fronteiras do Universo" é herética, um libelo anti-religioso e anticristão.

Inspirada no "Paraíso Perdido", de John Milton, a série relata a batalha final entre a Autoridade, as forças do controle e do ritual, que aprisionam a humanidade há milênios, e a República do Paraíso, que vem lutando pela liberdade desde que os anjos se rebelaram contra Deus. Pulmann é um paradoxo: coloca sua imaginação incomparável a serviço de um elogio do materialismo. Diz que "depois de comida, teto e companhia, não há nada que o homem deseje tanto quanto histórias".


André Forastieri, 37, é editor e co-fundador da Conrad Editora, especializada no leitor jovem. Agradece a Valderez, sua mãe, por tê-lo ensinado a ler, e a João Carlos, seu pai, pela coleção completa do Sítio do Picapau Amarelo, que ganhou em 1972.
Related Posts with Thumbnails